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Dança: Araraquara recebe Morgana Sousa

Espetáculo Risko será apresentado no Sesc

Ao propor um diálogo entre a dança, a fotografia e a cidade, em “Risko”, Morgana Sousa revive memórias de seus afetos pela cidade (re)descobrindo e (re)desenhando escolhas. O espetáculo estará em cartaz no Sesc Araraquara neste sábado (11), às 20 horas, no Teatro da unidade. Após a apresentação, a artista conversa com o público sobre seu processo de criação.  Os ingressos variam de R$5 a R$17 e estão disponíveis no Portal Sesc e nas bilheterias das unidades.

No mesmo dia, das 10h às 14h, Morgana ministra a oficina Imagem – Afetos, relações e construção, que propõe aos participantes vivenciar e experimentar a interface das linguagens da dança e da fotografia e sua relação com memórias. As vagas são limitadas e para participar, basta fazer a inscrição gratuita na Central de Atendimento.

Dança, fotografia e cidade. O projeto Risko é destinado ao estudo, pesquisa e relação de diálogo entre dança e a técnica light-painting – “pintar com luzes”, que por meio de imagens fotográficas capturadas em espaços urbanos e sua posterior aplicação para a criação de vídeo-projeção, propõe a extensão da relação de diálogo para a criação cênica, através das linguagens da dança e do audiovisual. Dilatando outras possíveis (re) leituras para o surgimento de novas gestualidades, tendo em sua concepção forte relação com os atravessamentos e acontecimentos locais, característicos de uma proposta site-specific.

Portanto, refere-se a uma investigação de risko, na qual gestualidades coreográficas são criadas a partir da conversa/contato do corpo de uma mulher negra com a rua, e da relação de suas memórias e afetos/desafetos. E posteriormente durante o processo de investigação e criação desta (re) leitura coreográfica para estes símbolos visuais, agora dentro do espaço cênico, onde a dramaturgia segue dialogando com interfaces de suas memórias afetivas.

Imagens relacionadas ao racismo, machismo e a vítimas de sistemas opressores de classe são elementos que, além de compor visualmente a proposta junto aos registros de light-painting pela cidade, fizeram-se fortemente presentes desde a infância, bem como na fase inicial do processo deste trabalho. Presentes direta e indiretamente no dia-a-dia da artista, em sua vida social e profissional. Acontecimentos diários como abordagens invasivas, preconceituosas e machistas de homens e mulheres em espaços públicos e privados, por conta de sua aparência, tom de pele, vestimenta ou cabelo serviram de disparo para compor contextos relacionados aos temas. O trabalho traz para a cena a imagem de uma mulher negra que através de sua persistência e resistência, luta para prosseguir seu caminho rompendo com opressões e barreiras, que “tendem” a ser condicionantes a um comportamento social e/ou estético.

Durante sua busca por “romper” com tais opressões, acaba por fazer emergir um espaço de trânsito e reflexão com relação ao que é ou poderia estar claro, velado, ou até então obscuro para essa mulher negra. Que após “sair da linha”, ou “bagunçar” com o desenho do que deveria ser um padrão de conduta/beleza/comportamento que a sociedade aceita e impõe, decide redefinir e construir seu próprio espaço através das luzes de suas lanternas (fazendo alusão aos olhos, ao coração e a mente, quando aquilo que estava encoberto/obscuro/confuso ressurge em novas compreensões para ela mesma), alternando entre visibilidade e invisibilidade.

Cria-se então sua identidade de expressão e movimento através dos rastros de light-painting, que permite criar e recriar novas combinações a cada fazer. Em meio ao breu, conflitos que foram sofridos e até então resguardados a solitárias mentes, corpos e quartos, surgem com novas questões relacionadas ao machismo. Estas novas questões ganham literalmente traduções estético-corporais. Porque mais do que tentar dizer numa sociedade que não deseja ouvir, algumas mulheres por vezes necessitam gritar. Este grito não surge para causar confusões ou abafar outras vozes, mas para propor uma pausa, um breve instante ao menos para se esvaziar e recriar a possibilidade de dizer: Ei, basta!

Bastam dores e angústias. Mulheres são diversas. Sendo assim, o conceito feminista de interseccionalidade perpassa o trabalho e convida a este estado de risko, concernente a questões que talvez cada um de nós tenha alimentado, já que vivemos em estado de risko todos os dias.  

Até que ponto nossos riskos podem nos levar a refletir acerca do modelo de uma sociedade transformadora, na qual queremos viver? Qual o nosso papel como agentes desta mudança? Afinal, fomos criados para reproduzir repressões. A artista Morgana Sousa propõe com este recorte, a criação de um espaço de reflexão e a busca por legitimação de uma mulher negra, que decide construir sua trajetória com autonomia, e assim como muitas mulheres, prossegue lutando por ele. Recriando seus espaços, de dentro para fora e de fora para dentro. A escolha pela escrita da palavra RISKO com K, sugere e reforça a ideia e o anseio de tantas mulheres. Liberdade para ocupar, ser e se expressar na vida e/ou na arte.

 

  • Sobre Morgana Sousa

Morgana Sousa Iniciou sua carreira em danças urbanas em 1999. Participou de aulas com artistas de diversos estilos, dando ênfase o breaking. Integrou a "Cia. Discípulos do Ritmo" por 10 anos, atuando como integrante e colaboradora na criação do espetáculo "Fresta" em 2003, dirigido por Henrique Rodovalho, dentre outros trabalhos. Desde 2008 pesquisa e participa de cursos livres e de formação com artistas da dança contemporânea. Em Junho de 2013 estreou seu primeiro trabalho solo, ”ENTRE”, no I Encontro Mulheres na Dança na Sala Crisantempo. Iniciou o processo de pesquisa e criação do trabalho "In-Vitrum" com Eliane Capel, apresentado na Biblioteca Monteiro Lobato em Novembro de 2013. É criadora, intérprete, pesquisadora e artista-orientadora do projeto Vocacional Dança desde 2008. Participou como bolsista do curso de formação: “Reeducação do movimento e psicomotricidade” pelo Método Ivaldo Bertazzo, dentre outros. Atualmente, trabalha na finalização da criação do solo "Por Um Fio" junto a artista Mag Magrela com o Coletivo Apuama, e desenvolve processos de pesquisa e criação artística em dança e performance, em interlocução com artistas de diferentes linguagens.

 

Serviço

Espetáculo Risko

Dia: 11/11, sábado

Horário: 20h

Local: Teatro

Classificação: Livre

 

Ingressos:

R$ 5,00 (Credencial Plena);

R$ 8,50 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante);

R$ 17,00(Inteira / Credencial Atividades).

 

Redação

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